quinta-feira, 31 de março de 2011

Barriga de tanquinho

      O sino havia acabado de soar e eu já estava na porta para a troca de horário com a professora da "Hora do Conto". Entrei na sala quando as crianças se acalmaram e disse:
_ Boa tarde!
_ Boa tarde - responderam em coro.
      Sem maiores delongas passei a explicar como ia acontecer a aula. Peguei um giz e fui para o quadro.
      Naquele dia eu tinha colocado uma camisa que as crianças não conheciam bem e logo ouvi alguns comentários. Na verdade, não gosto muito daquela camisa, me faz sentir calor, então prefiro não usar. Na falta de outra roupa limpa no roupeiro, peguei aquela mesmo.
      Enfim, percebi o estranhamento das crianças, mas não dei atenção, segui com os apontamentos no quadro.
       De súbito, quando havia acabado de me virar para a turma, um aluno disse:
_ Bahhh, professor, tu tá tanquinho, ein!!!
      Como o comentário me favorecia, não repreendi, segui a aula com uma leve sensação de satisfação.
      Explicadas as atividades, organizei as crianças e fomos para a quadra. Peguei os materiais, organizei os grupos e a aula seguia normalmente. Mais tarde, quando olhava atendo para a atividade desenvolvida por um grupo de gurias, o mesmo aluno que se referiu a mim como "barriga de tanquinho" se aproximou sorrateiro...
      Senti minha camisa subir. Olhei para baixo e o guri havia levantado minha roupa até o meio da barriga. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele se pronunciou...
_ BÂÂÂÂÂÂÂÂÂÂHHHHHHH, professor, tu NÃO tá tanquinho...
Sem pestanejar respondi!!!
_ Ahhhh, guriiiii, tu não tem nada pra fazer, não? Vai brincar!

quinta-feira, 17 de março de 2011

De volta ao trabalho...

Logo após o Carnaval voltei efetivamente ao trabalho... as aulas no ensino superior já haviam começado desde fins de Fevereiro, mas as primeiras aulas são mais tranquilas e não exigem tanto do professor. Além disso,  na educação básica, apesar de também já estar na escola desde fins de Fevereiro, na primeira semana de aula não estive de fato em aulas com as crianças. A coordenação pedagógica entende que é positivo, nos primeiros dias, as crianças passarem mais tempo as professoras regentes de turma, criando assim maior identificação.

 Assim sendo, passado o Carnaval "voltei" às aulas...
Quarta à tarde estivemos em reunião pedagógica na escola, depois fui para Novo Hamburgo substituir uma professora na Faculdade. Na quinta à tarde tive minhas primeiras aulas com as crianças e logo após, segui para Novo Hamburgo para novamente substituir a professora. Sexta feira, aula com as crianças à tarde e logo após, Novo Hamburgo. Após o término da aula, voltei, como de costume, para Porto Alegre, pegando mais uma hora de trânsito. Cheguei podre, cansado e com dor de cabeça... Comi algo e apaguei.

Acordei no outro dia,  meio retardado e às 8hs da madrugada estava me dirigindo para escola... foi sábado letivo e passei com as crianças e professores toda manhã. Da escola, novamente fui pra Novo Hamburgo, orientei uma aluna as 13hs (mas me atrasei) e as 14hs estava novamente em aula.
Tudo corria bem, dei a primeira metade da aula na boa (digo, na técnica) e logo passamos para o segundo tema... passei um fragmento de um filme.
Sentado junto aos alunos assistindo ao filme, dei umas duas pescadas com os olhos abertos.
Terminado o trecho,  partimos para a  discussão. A aula teria mais 15 ou 20 min, no máximo. Dirigi-me aos alunos e perguntei:

_ E ai, meus amores, digam pra mim o que é possível pensar a partir deste fragmento de filme? Que corpos habitavam a Idade Média?
Os alunos disseram coisas e fui tomando nota no quadro. Após as falas dos alunos passei a amarrá-las com o conteúdo a ser socializado. Foi então que a coisa começou a ficar feia...

"Mal e porcamente" respondi aos apontamentos de um aluno, depois, ao entrar nas especificidades do conteúdo, fui vendo a aula se perder...
Genteeeeeeeeeeeeeee eu esquecia tudoooooooooooo!!! Eu não me lembrava o nome do regime político, da ordem religiosa e outras tantas especificidades daquele período histórico. E para aqueles que tem dúvida, SIM!!!! EU PREPAREI A AULA COMO SEMPRE FAÇO!!!!

Em meio a um branco e outro os alunos me lembravam das coisas. A cada auxilio eu respondia, obrigado meu filho e ria... Foi então que mais um branco me ocorreu. Parei a aula. Olhei para aquelas carinhas ávidas por saber e fiz uma pausa dramática.

Eu estava no meio de uma frase, no meio de uma assunto... os alunos estavam atentos... A pausa terminou quando disse:

Meus amores, um abraço pra vocês, a gente se vê no sábado que vem...
Silêncio na sala por um instante.

_ Mas o que é isso professor, o que foi?
_ Gurizada, não tá rolando a aula... semana que vem retomamos o assunto e em 15 min matamos o conteúdo,  ok? Beijos e até sábado.

Caminhei em direção a minha mesa meio que rindo, porque chorar não era cabível naquela situação. Alguns alunos já saiam porta afora, outros ainda atônitos, olhavam para mim sem acreditar direito no que estavam presenciando...

Ao sair da sala, fechei a porta, me despedi das criaturas que ainda estavam por ali, virei meu rosto para a esquerda e em minha direção caminhava um outro aluno... impulsivamente disse:

_ Ihhhh, agora aquele guri, ainda vai ter orientação de TCC comigo... coitado!!!
Saí de Novo Hamburgo às 17:37.

Para o próximo sábado vou me puxar pra ver se consigo me redimir.

domingo, 6 de março de 2011

Eu não quero voltar sozinho...

Há alguns dias um amigo me mandou esse este link... Assisti ao curta e me encantei com a sensibilidade da história. Fiquei muito feliz e sensibilizado com a narrativa que, dentre outras coisas, serve para nos fazer (re)pensar concepções de corpo, gênero e sexualidade...
Assistam, é lindo!