Nesta última semana a correria intensificou-se. Além das demandas habituais recebi um convite da Silvana (minha orientadora do doutorado) para escrevermos um texto juntos. Até onde sei, ela já estava com o artigo praticamente pronto, quando o PC quebrou. Com a corda no pescoço saiu à busca de algum texto que pudesse aproveitar para encaminhar para a publicação. Fuçando os arquivos encontrou minha proposta inicial de tese e, então, entrou em contato para trabalharmos juntos.
Topei a empreitada que tinha dez dia de prazo.
Pensei... barbada! Conheço a discussão e 10 dias é mais do que o suficiente!
A ideia era relacionarmos os processos de investimento tecnológico no corpo com os pressupostos da Eugenia (ciência gestada no século XIX que tinha por fim promover a melhoria da espécie humana). O argumento central utilizaria elementos da "cultura fitness" e do esporte de alto rendimento para dizer que, contemporaneamente, presenciamos uma Neo Eugenia.
Passados dois dias após termos fechado a proposta do texto, Silvana me liga novamente e diz:
_ André, nosso prazo foi reduzido... temos que entregar na terça!
Ou seja, dos 8 dias, perdemos 4! Então, prontamente disse:
_ Ok, se é esse o prazo, vamos encaminhar o texto com o prazo que temos.
Obviamente, que depois de desligar o telefone eu pensei... Fu...
Entre uma aula e outra mergulhei na escrita e, o que em princípio parecia ser barbada, se tornou bastante trabalhoso.
Apropriado dos elementos teóricos fui à busca de atletas que me ajudassem a pensar essa discussão. Meus alunos da turma de sábado já haviam me dado uma pista sobre um tal chinês, atleta de basquete, Yao Ming. A partir de então, cheguei a aspectos dos corpos de Michael Phelps (nadador norte americano) e Tiago Pereira (nadador brasileiro). Imerso em imagens e textos, sobre atletas espetaculares, encontrei Oscar Pistórius, atleta sul africano que teve suas pernas amputadas aos onze meses de idade. Pistórius seria perfeito! Seu corpo, suas próteses, seu desempenho esportivo era tudo o que eu precisava para amarrar a discussão.
Ler sobre sua trajetória, acessar suas imagens e assistir a seus vídeos abriu, diante de mim uma outra sensibilidade que, infelizmente, o formato de texto exigido para publicação não conseguiria alcançar.
Meu desejo no momento de escrita era possibilitar aos leitores assistirem a vídeos, verem imagens, analisarem os formatos de suas próteses... mas a tinta impressa no papel não me permitiria isso...
Neste sentido, resolvi construir este post, e utilizar os recursos que blog me disponibiliza para tentar dimensionar imagem de Oscar Pistórius.
"Assim é Oscar Pistorius, atleta paraolímpico que aos onze meses de idade teve suas pernas amputadas. Seu corpo, então, tornou-se alvo de investimentos e, na articulação entre várias áreas do saber, deu origem a um ser híbrido de carne e fibras de carbono. Aos moldes da Eugenia do século XIX, o atleta sul africano jamais se tornaria um emblema de “Homem puro-sangue”, sobretudo porque nasceu marcado por uma má formação congênita. Entretanto, sob os imperativos da neo Eugenia, sua mazela foi extirpada e sua “deficiência” suplantada pela tecnociência. Pistorius, neste texto é o emblema da neo Eugenia ao potencializar seu corpo para além de suas condições “puramente” humanas."
(...)
"Nas práticas neo eugênicas da contemporaneidade, o corpo de Pistorius que, aos onze meses de idade, vislumbrava a quase imobilidade, potencializa-se, acopla dispositivos tecnológicos e emancipa-se para uma condição híbrida. Aos nossos olhos, é o emblema do processo de melhoria da espécie." (Goellner e Silva - no prelo)