Hoje, em função da chuva, estava trabalhando com uma turma de alunos dentro da sala, conversando e fazendo atividades ali mesmo. Para evitar tumultos, enquanto os alunos não estavam fazendo a atividade, pedi para que permanecessem sentados em seus lugares. Habitualmente, eles se sentam em grupos em uma grande mesa redonda, cujo centro sustenta um baldinho de lixo.
A aula corria bem, quando uma aluninha chamou...
_ Professor, o Fulano está comendo o trabalhinho dele!!!
Eram folhas de papel pardo do tamanho de uma A4. O aluno segurava cada uma, em uma das mãos, o papel estava amassado e presos fortemente pelos dedos e punho cerrado... A criança levava cada uma das folhas à boca, e as rasgava com os dentes... Como se não fosse o suficiente ainda mastigava, com a boca aberta aquele papel já molhado de saliva.
Vendo aquela cena inusitada, pensei... O aluno só quer tumultuar, logo, provavelmente, vai parar... Ledo engano... ele comia e comia o trabalhinho, chegando até a engolir o papel.
Fiquei preocupado e fui até la.
_ Fu-laaaa-no (porque se não separar o nome das crianças em sílabas, a advertencia não sute efeito), o que é isso? Que nojooooo. Cospe isso no baldinho de lixo, guri!
Olhando para mim, o guri nada fez. Repreendi novamente retirando de suas mãos o papel que ainda restava. Logo pôs-se a cospir papel e saliva, como se quisesse limpar a boca... Mais aliviado, falei:
_ Muito bem, meu filho...
De súbito, o guri enfiou as mãosinhas na lixeira e pegou todo o lixo possível, metendo de uma só vez na boca, emitindo sons com o mastigar de boca aberta.
De onde estava foi possível avistar: pontas e cascas de lápis, pedaços de papel, embrulho de bala e até um pedaço de papel higienico.
Olhando aquela cena não acreditei no que acontecia... a boca do aluno estava cheia de lixo, emitindo sons animalescos, balançando a cabeça com vigor, enquanto eu dizia:
_ Fu-laaaa-no, cospe isso, guri, cospe isso, tu tá ficando doido? Tu tá doido, meu filho!!!!
E eu chegava com a lixeira perto dele e dizia: cospe, cospe logo, guri... que nojo... As crianças faziam mensão de asco... a mim, não cabia fazer mais nada... Diante daquela cena surreal, comecei a rir...
Mais tarde, voltando pra casa, as lembranças me tiraram lágrimas dos olhos e dores nos maxialilares... não conseguia parar de gargalhar.
PS: O aluno cuspiu o lixo e de modo reservado conversei com ele sobre os perigos da sujeira do lixo. Ao que disse o aluno? "Eu sei sor... no lixo tem bactérias..." A criança tem seis anos.