domingo, 31 de outubro de 2010

Dia dos professores

15 de outubro, sexta feira, foi o dia em que se comemorou o dia dos professores... Na escola houve um almoço especial, momento em que confraternizamos a data. Depois de comermos e rirmos, como é de costume, nos encaminhamos à sala dos professores para organizarmos a aula que se iniciaria às 13:15.
As sextas feiras são dias especialmente agitados para mim. É o dia da semana em que dou aulas para as turmas mais turbulentas da escola.
13:15 o sinal bate. Pego meu material e me encaminho para a sala. As crianças já estão me esperando, mas não de modo organizado... longe disso. A turma que pego no primeiro horário é, por assim dizer, um tanto quanto inquieta.
Depois de alguns minutos em frente a sala organizando as crianças, entramos para começar a aula. O tumulto, logo que entraram, se fez presente, como de costume. Neste momento, fui surpreendido por um aluno cabisbaixo...
 _ Oi professor - Tratava-se de um guri bem tímido. O que ele tem de tímido, tem de violento. Anselmo é um pouco maior e um ano mais velho que os demais coleguinha e adora distribuir chutes e pontapés...
 _ Oi meu filho, como vai?
 _ Professor, feliz dia dos professores... - Nesse momento fui surpreendido por aquele guri que há todo momento ouve de mim "Anselmo, não chuta o fulano", "Anselmooooooo, já falei pra largar o beltrano", Anselmo, não é possível, cara... vai ficar sentando aqui no banco até tu te acalmar". Era como se uma luz iluminasse aquela criança... eu pensei... que amor... que afetuoso. Me comovi.
 _ Oi Anselmo, muito obrigado, me dá aqui um abraço de dia dos prof!

Nos abraçamos e Anselmo seguiu para sua mesa. Acompanhei a criança com os olhos enternecidos...
No caminho até se sentar, Anselmo deu um tapa na cabeça de um colega, chutou três cadeiras, duas mesas e sentou-se. Atônito, olhei para a turma, fiz uma pausa que durou um piscar de olhos e disse:

_ Ok, ok... DEU PRA VOCÊS!!! NÃO QUERO NINGUÉM MAIS EM PÉ!! OUVIRAM??
Enquanto organizava as crianças, pensava: Professor, feliz dia dos professores...

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

"Prof, quantos anos tu tens?"

Hoje pela manhã, acordei, tomei banho e me dirigi ao local de prática de estágio acadêmico. Tenho dois alunos sobre a minha supervisão que atuam em uma política pública de Lazer no município de Ivoti. Lá eles dão aulas para três turmas de aproximadamente 10 - 12 crianças. Particularmente eu adoro estar na supervisão de estágio. As crianças não são minhas alunas e quem tem que planejar e dar conta dos "problemas" das aulas são os supervisionandos... eu só dou "pitaco" e fico brincando com as crianças... é super legal!
Então, hoje estava junto com as crianças, quando uma outra professora (que também é minha aluna no curso de Ed. Física) apareceu e começou a brincar conosco. Brincadeira vai, brincadeira vem, uma criança vira-se pra mim e pergunta:
_ Professor, quantos anos tu tens?
Olhando para o guri, respondi  com outra pergunta.
_ Quantos anos tu achas que eu tenho?
_ Hummm, VINTE!!!!
Mais que depressa mostrei meu dedo polegar em sinal de "jóia" e estampei um baita sorriso no rosto, afinal, dos 20 anos, já passei há algum tempo...
_ Acertei??? - Perguntou o aluno.
_ 20 anos, pra mim, está ótimo...
_ E a senhora, professora, quantos anos tu tens?
Adotando a mesma estratégia, a aluna respondeu:
_ Quantos anos tu achas que eu tenho? (deve beirar os 25 anos)
_ Hum.... CINQUENTA!!!
Nesse momento já comecei a rir... A aluna olhou pra mim com um pequeno sorriso no rosto e disse:
_ Eliandro, tu tem avó?
_ Sim.
_ Então, pensa na tua avó. Ela deve ter 50 anos...
_ Hummmm... - Respondeu a criança.
_ Entendeu agora o que é ter 50 anos?
_ Sim.
_ Agora pensa na tua avó e olha pra cara da prof...  Quantos anos tu achas que eu tenho?
Nesse momento olhei atentamente para a criança. O rosto de Eliandro havia se iluminado em uma feição de descoberta e entendimento. Ele estava ansioso para dar a resposta depois das explicações da professora...
_ E então, quantos anos tu acha que a prof tem?
_ Eu sei, eu sei... SESSENTA!!!!
Sem conseguir ficar parado na cadeira, levantei-me às gargalhadas... Eu olhava pra cara da aluna e ria mais ainda de suas feições de desapontamento. Coitada, ela ficou completamente frustrada ao mesmo tempo em que ria da  espontaneidade da criança.

Mais tarde ele atribuiu idade a todos os profes... eu saí completamente feliz da supervisão de estágio. Ao final da manhã eu era o prof mais jovem de todos hahahahahahaha. Adoro o Eliandro...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Lea T





Nascida no Brasil, Lea T tem 28 anos, é modelo, frequentou à Escola de Artes em Florença, à Faculdade de Veterinária em Milão e é assistente pessoal de Riccardo Tisci, importante nome da grife francesa Givenchi. O corpo de Lea apresenta a coleção Givenchi outono/inverno 2010-2011 e encerra o conceito de trânsito entre as referências masculinas e femininas no disign de suas roupas.

Na edição de agosto, Lea ganhou uma página inteira na revista Vogue francesa, expondo seu corpo. Com os longos cabelos soltos, sutilmente Lea cobre os seios com uma das mãos enquanto a outra deixa à mostra parte de sua genitália.  Lea T é um transsexual e sua anatomia causa estranhamento. Sua beleza fascina ao mesmo tempo em que seu corpo desacomoda o olhar...

Talvez não fomos educados a contemplar a diversidade... acho mesmo que não. No meu fazer docente, percebo um profundo incômodo quando as categorias Homem e Mulher, masculino e feminino não nos servem para classificar as pessoas. A partir disso, outras surgem: Travesti, Transsexual, Drag Queen, etc. A grande questão que se coloca mediante a isso é que, geralmente, vemos os usos dessas categorias associados ao demérito, ao preconceito, à discriminação. A diversidade de corpos, de constituições de gênero, de sexualidade, de etnia, cor, etc, operam como marcadores a hierarquizar os sujeitos. Para mim, é inconcebível as prerrogativas dos corpos brancos, heterossexuais, das masculinidades e feminilidades hegemônicas.

Enfim, depois de toda essa conversa, acho mesmo que deveríamos refletir sobre o sofrimento causado pelas discriminações e preconceitos, pelas piadas e palavras impensadas...

Por fim, desejo muito sucesso à Lea e que seu corpo, sua beleza e diversidade nos ensine a conceber a diferença e a reconhecer nela os méritos que lhes são próprios...








quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Noções de etiqueta

Há poucos dias estava no telefone falando com um amigo, mestrando em um Programa de Pós Graduação da UFRGS... conversa vai, conversa vem, o guri me falou de um e-mail que havia recebido de seu orientador. Pela descrição rápida que recebi por telefone, o e-mail era um tanto macabro pois carregava, ao longo do texto, a palavra DES-LI-GA-MEN-TO. Achei aquilo assustador. Enfim, procurei entender o que estava havendo e ouvi algumas críticas ao orientador... Neste momento, eu, professor e também orientador (por enquanto só oriento TCCs), ouvi os mesmos queixumes que fazem todos os orientandos do mundo. Sim. Porque orientando que é orientando sempre vai chorar as pitangas para os outros em vez de resolver os problemas com o orientador... mas enfim. O que quero dizer é que não deu pra ouvir aquela lamúria sem me colocar no lugar daquele orientador prestes a desligar o guri... Assim sendo, a partir daquele telefonema, resolvi escrever este post para lançar algumas noções de etiqueta no trato com o orientador.
Antes, entretanto, de acessar o que é de bom tom na relação orientando-orientador, responda ao questionário abaixo e verifique se você sabe o que está fazendo (TCC, monografia, dissertação, tese etc) ou se é um completo "sem noção".

Teste de noção para orientandos...
Se você for um orientando de algumas das modalidades acima descritas, responda o questionário.

1) Quem é o autor do trabalho?
2) Quem vai receber o título?
3) Quem precisa terminar a pesquisa?

Se respondeu "EU"  a todas, você sabe o que está fazendo e já é um bom passo em direção ao sucesso...
Se respondeu Nós a uma das questões, está faltando bom senso... reflita!!!
Se respondeu Nós para duas ou para as três questões, vc é um completo "Sem noção"!!!

Enfim, agora que já é capaz de reconhecer o grau de "consciência" que possui com relação ao SEU trabalho, vamos conversar sobre algumas atitudes que podem auxiliar no processo de tecitura da pesquisa. Pois bem, o que tenho notado das pessoas que se enveredam na produção de textos monográficos é que há um grande desperdício de tempo e de energia reclamando do orientador, dos textos que ele deixou de ler, dos e-mails que ele deixou de responder, bla, bla, bla... quando dois ou mais orientandos se reúnem então.... sai de baixo... até quem não nada para reclamar inventa pra não ficar sem assunto... O que acaba acontecendo, às vezes, é que muita gente tem "vivido demais a tese", sofrendo demais com o processo e se esquecendo de construir o texto... Sinceramente, acho até legal essas angústias causadas pelo processo de "criação", mas também é igualmente, ou mais satisfatório, sair dela. Assim sendo, preste atenção nos passos a seguir para que possa construir uma boa experiência de pesquisa...

1 - Assuma a autoria do texto.
2 - Gaste menos energia reclamando e empregue-a na leitura de mais artigos.
3 - Antes de solicitar auxílio do orientador para resolução de um problema, reflita "será que não sou capaz de resolver isso sozinho"?
4 - Revise o texto com calma antes de mandar para o orientador.
5 - Mesmo que a parte do texto em que está trabalhando não esteja acabada, esboce o caminho que quer seguir (Ninguém merece uma série de parágrafos em sequência que não estão articulados, que possuem ideias soltas)
6 - Faça o que teu orientador te pedir para fazer, e se possível, faça mais...
7- Você só tem 1 (UM) orientador e mesmo que tenha um co-orientador, mantenha cautela...
8- Mande e-mails periódicos dizendo o que está fazendo (Por favor e-mails curtos e sem perguntas do tipo: "qual o tamanho de fonte devo usar?"

Enfim, seguindo esses passos você será um grande candidato a acadêmico de sucesso...
Dito isso, despeço-me.

PS: Esse post será leitura obrigatória a todos os meus orientandos e espero, do fundo do coração que as demandas consumam minha orientadora impossibilitando-a de ler o que está escrito aqui hehehe

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Mais uma do Marcelo Augusto hehehe

Hoje à tarde, estava em aula com uma turma quando Marcelo Augusto (8 anos) chegou pra mim e disse:
_ Professor é verdade que se a gente chamar a Maria Degolada no banheiro ela aparece à meia noite? _ O guri estava sério. Não me parecia preocupado, nem angustiado, mas não fez, sequer, um esboço de sorriso.
_ Sim, é verdade Marcelo Augusto. Tu chamou por ela no banheiro?
_ Sim.
_ Quantas vezes?
_ Algumas vezes, porque?
_ Por que tu tem que chamar três vezes, eu acho... Tu chamou mais de três?
_ Eu chamei duas...
_ Ah, bom... vê com a professora Valéria (professora da biblioteca e da hora do conto) quantas vezes são, ao certo. Ela está na sala dos pequenos...
O aluno foi em direção à sala e bateu à porta. Sem que percebesse, desloquei-me por trás dele e fiz gestos com a mão, induzindo a professora a confirmar que três era o número de vezes que se tem que chamar a tal alma penada.
Depois de receber a informação precisa da professora eu disse, viu só, Marcelo Augusto... Agora vai pra tua sala!
Passados uns vinte minutos, volta o guri:
_  Soroooo, ô soro...
_ Oi meu filho.
_ É verdade que quando a gente faz xixi na cama é porque a Maria Degolada já veio?
.
.
.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

E mais um semestre se inicia...

Pois é meu povo... mais um semestre se inicia e eu escrevo este post pra interromper a abstinência textual. E sabem o que é pior? Desde a última postagem aconteceram várias coisas dignas de serem socializadas. Outro dia estava no quarto onde guardamos os materiais da Ed. Física, quando uma aluna adentrou o recinto esbaforida...
- soooooooor, soooooooooooor, o vizinho "tacou" ovo na gente!!!  
Rapidamente respondi ao chamado...
- Que isso guria? Tá doida? Quem atirou ovo de onde?
Peguei os materiais para a aula e fui até a quadra ver o que havia acontecido. Um grupo de alunos estava bem envolvido com o caso do ovo, então, pra não perturbar a "tranquilidade" dos outros tantos, atendi aos grupos que estavam brincando para, só então, averiguar a ocorrência.
Genteeeeeeeeeeeee, havia um ovo espatifado no meio do pátio! As gurias diziam que tinha acertado a fulana, mas que o ovo não havia quebrado no casaco dela....
Pra não tumultuar chamei logo as crianças pra aula e voltei mais tarde aos vestígios do ato. Inacreditável... o vizinho atirou dois ovos nas crianças da escola. Eu, obviamente, fui rindo chamar a Coordenadora Pedagógica, afinal, nunca li sequer um texto na faculdade que explicasse como devemos proceder no caso de alguém atirar ovos  na escola...
.
.
.
Quinta feira dia 05 de Agosto foi um dia que choveu bastante pela manhã, deixando a quadra molhada. Estava em aula com os pequenos, de 06 anos, e resolvemos ficar na sala e brincar ali mesmo. Aproveitei a oportunidade, uma vez que há um tempo venho trabalhando as questões relativas ao ritmo e expressividade (apesar de eu mesmo ter sérias dificuldades com esse conteúdo). Ao longo do semestre venho tentando ensinar músicas, palmas e passos simples para os alunos. Entretanto, sempre que chego com uma música diferente, a resposta deles é a mesma: "ah, essa é a música da XUXA! Obviamente que deixei de acompanhar as produções artístico/intelectuais da rainha dos baixinhos há um bom tempo... o que faz de mim alienado do universo musical infantil...
Pois bem, ensinei a música dos "Amigos de jó" que, segundo as crianças era da XUXA. Ensinei "Cabeça, ombro, joelho e pé", que sem dúvidas, é da XUXA. Estou ensinando Piruetas, essa é do Chico Buarque, e as crianças disseram que é da XUXA... Respirei fundo e passou...
Pois na aula do dia 05 de agosto comecei a ensinar "Adoleta", quando me surpreendi mais uma vez com os alunos  dizendo ser da XUXA...
Ao ouvir aquilo um exu marxista apossou-se do meu corpo me fazendo erguer o dedo indicador da mão direita e dizer:

Genteeeeeeeeeeeee, a Xuxa é uma oportunista, um ser desprezível construído pelo capitalismo de consumo no qual vivemos nos dias de hoje. Essas músicas não são da XUXA, já existiam muito antes dela regravar!!! Muito antes dela ser namorada do Pelé!!!!
Num lapso de lucidez, olhei para as caras das crianças... estavam imóveis, algumas com breve sorriso no rosto, todas com os olhos arregalados...
Novamente ciente de mim, disse:
Vamos cantar a música e parem de dizer que tudo é da XUXA!!!!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Fim de semestre

Mais um semestre se encaminha para o fim... correria para fechar notas, lançar frequencia, preencher diários, ler TCCs... ufa, muita coisa em pouco tempo. Chega a ser engraçado olhar para os colegas professores... é unânime o cansaço estampado no rosto. Porém... a jornada está terminando. Como balanço de 2010/01, sinto-me com o dever cumprido... tive bons indícios de aproveitamento de muitos de meus alunos... acho que em maioria, aprenderam o que as disciplinas propuseram... outros, entretanto, simplesmente passaram pelas cadeiras. Às vezes isso me entristece um pouco, mas enfim, cada um tem seu tempo...

No mais, me diverti mais do que me estressei (com os alunos) e vamos aguardar porque certamente no próximo semestre teremos mais coisas inusitadas para postar.

Abraços

domingo, 20 de junho de 2010

Festa Junina

Era uma quinta feira e estava em aula com uma turma que se organiza bem e já sabia como fazer as atividades que propus. Isso me possibilitou conversar mais de perto com alguns alunos e passar orientações mais precisas, em pequenos grupos. Em uma das minhas andaças, orientando as crianças, vi um aluno de outra turma sentado no banco, observando a aula. Não é rara presença dele naquele banco, o que muda são os motivos que o levam para fora da sala: a professora o convida a se retirar; ele sai por conta própria (fugido); as vezes pede para ir ao banheiro e não volta mais... enfim.
Como prática, eu nunca o repreendo. Sempre converso sobre coisas banais e, percebendo que ele está calmo no dia, peço que ele volte para sala. Marcelo Augusto (nome fictício) é assim, um pouco inconstante e isso dificulta o trato... Apesar disso, ele é um guri fofo, tem 8 anos e está cursando, pela segunda vez, o segundo ano.
Mas então, voltantdo à minha aula de quinta feira... encontrei o Marcelo Augusto observando a aula, quando me reportei a ele.
_ Oi Marcelo Augusto, como vai?
_ To bem...
Passados alguns segundos, eu já estava sentado do lado dele, quando me perguntou:
_ Professor, o senhor vai vir amanhã na festa junina?
_ Sim, é meu dia de trabalho, amanhã...
_ Eu não vou vir de gaúcho... disseram que é pra gente vir de gaúcho, de prenda ou de uniforme. Eu vou vir de uniforme porque de gaúcho eu não vou vir.
_ E porque tu não vem de prenda?
_ Eu não sou guria...
Atento a ele, respondi...
_ Hummmmm
Em seguida ele disse...
_ Essa festa junina tá muito estranha...
_ Porque, Marcelo Augusto?
_ Eles pediram pra gente trazer coisa pra ajudar, coisas de comer... Mas ta escrito no bilhetinho que amanhã a gente vai ter que comprar as coisas. O cara vai ter que comprar as coisas que ele mesmo trouxe!!!!
Suspeitando da perspicácia do aluno perguntei...
_ Quem te disse isso, Marcelo Augusto?
_ Ninguém...
_ Da onde tirou essa idéia?
_ De lugar nenhum, da minha cabeça...
Olhei pra criança. Ri meio impressionado e disse...
_ Vai Marcelo Augusto... volta pra tua sala que a professora deve estar te procurando...

terça-feira, 8 de junho de 2010

E pra que serve tudo isso??

Hoje tive um dia atípico pra um professor. Sabe quando tu vence o conteúdo e sobra uma aula? Não? Então imagine... pois foi isso que aconteceu. Em uma das minhas turmas do ensino superior tivemos todas as 20 aulas previstas no calendário, ou seja, não houve feriado, liberação de alunos ou coisas do tipo. Além disso, a turma de aproximadamente 25 alunos proporcionou um bom andamento da matéria. Pois bem... matei o conteúdo todo e ainda restava uma aula... o que fazer? Passei a semana do feriado pensando o que abordar... as temáticas possíveis foram muitas, consultei os livros, meus acervos de aula e cheguei à conclusão de que essa não deveria ser uma aula para os alunos. Não. Essa deveria ser agradável, sobretudo, para mim.
Assim sendo, daria um conteúdo além do programa de aprendizagem  e que, portanto, estaria fora das avaliações "formais" previstas. Dito isso, imaginem:
1 PROFESSOR ( - ) AVALIAÇÃO ( - ) OBRIGATORIEDADE DE CONTEÚDO ( + ) ALUNOS QUERIDOS =
A (    ) Conto do vigário
B (    ) Conversa fiada pra boi dormir
C (    ) Mentira cabeluda
D (    ) Condições sobre as quais preparei minha aula.
Pois foi isso mesmo, meu povo... parece mentira, mas foi verdade...
Assim sendo, resolvi discutir com os alunos as questões da indústria cultural em uma disciplina destinada a problematizar e vivenciar as questões do Lazer.
Peguei umas bibliografias e li uns textos. Depois de revisitar as teorias, coloquei-me a ver vídeos, traillers de filmes, ler fragmentos de livros de literatura, ouvir músicas... Enfim, tudo prepardo. Ao término pensei: "meus alunos vão pensar que tomo um trago antes de dar aula". Solicitei os equipamentos necessários, separei meus materiais e fui...
Depois de 4hs de aula na educação básica e 1h de transito na 116 cheguei "zen" para dar aula... Tomei um banho demorado, pedi algo pra comer e instalei toda a tralha.

As criaturas chegaram e as classes estavam dispostas formando um U. Entraram na sala e perguntaram:
 _ O que é isso?
Gentilmente respondi.
_ Cadeiras e mesas. Sentem-se logo e fiquem quietos.
Depois dos risos iniciais, começamos a aula...
Disse aos alunos:
 _ Gente, hoje não vou fazer chamada, não vou avaliar a aula. Hoje a aula será conteúdo extra.
Imediatamente 3 ou 4 alunos se levantaram pegando as mochilas... Eu quase morri de decepção... Mas no fim estavam brincando. Sentaram-se logo e riram com a piada. (Digo que achei a piada de péssimo gosto... já estava me sentindo o último dos mortais... DEFINITIVAMENTE ISSO NÃO SE FAZ).
Enfim, comecei... amarramos um entendimento acerca do termo indústria cultural, mostrei traillers de filmes, clips e músicas dos mais variados estilos. Conversamos sobre o caráter massificante da indústria cultural; a quem servia; os elementos de superficialidade, senso comum e consumo fácil de seus produtos etc. Fechamos a discussão e liberei os alunos pro intervalo.
(Alguns alunos nem foram para o intervalo e ficaram em sala conversando ali próximo a minha mesa sobre cantores bem legais, rodas de samba e música ao vivo... cerveja artesanal e coisas do tipo. Bons alunos. Bem queridos. Ali, mesmo sem a pretensão de avaliar, foi possível perceber que foram tocados pela discussão.)
De volta do intervalo, encontraram no chão da sala, colchonetes. Pedi para que se sentassem e, ao som de uma música suave, iniciei um alongamento leve. (a parte do alongamento não tinha nada que ver com o conteúdo da aula, mas é uma boa estratégia pra "sossegar o facho" dos alunos que voltam eufóricos do intervalo).
Feito isso, disse a eles:
_ Gente, dando continuidade à primeira parte da aula, vou mostrar coisas que eu curto a vocês. Deixei eles ali no chão sentados, outros deitados à meia luz e me pus a ler trechos de livros. Eu lia e eles ouviam, lia e faziam que ouviam, outros tantos nem faziam e mantinham o fone de ouvido... (esse vai rodar na cadeira e vai fazer semestre que vem novamente hehehehe). Para terminar mostrei um vídeo que eu adoro...
Depois, levantei-me. Acendi as luzes. Os olhinhos dos alunos ainda estavam fechados com a luz excessiva que voltava a emanar das lâmpadas, quando perguntei:
_ Meus amores, diz pra mim... Me diz pra que serve isso tudo que eu mostrei pra vocês? (Falava dos fragmentos de textos, músicas e vídeos que eu curtia)
Sem muito demorar uma aluna respondeu:
_ Pra gente poder refletir.
_ Hum, muito bem, respondi.
_ Pra gente ampliar as nossas possibilidades e acessar outras coisas.
_ Isso também pode ser.
_ Pra gente criticar as coisas...
_ Excelente, disse.
Interpelando o pensamento deles fiz outra pergunta:
Gente, se vocês tivessem me feito essa pergunta, sabe o que eu responderia?... (Silêncio se fez...) 
Pra P... nenhuma. Isso que mostrei pra vocês não serve pra p... nenhuma.
Alguns esboçaram um sorriso, outros arregalaram os olhos... caras de espanto.
Ponderei... o lazer e todas essas coisas que mostrei para vocês, não devem ser concebidos nessa perspectiva funcionalista e utilitária... essas coisas devem nos divertir e isso, pra mim, já tá de bom tamanho. Que nos divirta e, se for capaz de agregar coisas, melhor ainda...
Olhei novamente para aquelas caras e vi que estavam mais calmos... mas minha aula não deveria acabar assim. Não essa aula!
Dirigi-me, mais uma vez a eles dizendo.
_ Gente, como disse, essa aula é conteúdo extra. Logo, vocês podem fazer o que quiserem com essa baboseira que eu falei pra vocês. Pensem, reflitam, ou, se quiserem... esqueçam tudo o que eu disse; podem até dizer que eu to variando...
Um beijo grande... nos vemos na semana que vem...
Novamente olhar de espanto... e um boa noite, meus amores, encerrou a aula.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Em débito...

Pois é, gente... sei que to em débito com o blog, mas juro que não rolou nada que eu pudesse postar aqui... assim sendo, to preparando um texto que conta um caso que aconteceu há uns seis meses...
Posto até o fim da semana...

Beijos

domingo, 23 de maio de 2010

Chloe

Estava em casa num fim de domingo, meio com fome, querendo ver gente e ser visto. Bom, pensei: vou ao cinema. A escolha não foi pelo título, nem pela sinopse, foi pelo horário. 22:15 era a única sessão viável, as anteriores já havia perdido e as outras tantas, após, terminariam muito tarde. Logo, "O preço da traição" foi a filme escolhido. Com título original, Chloe, o filme traz Julian Moore e Amanda Seyfried no elenco, o que, logo nas primeiras cenas, me deixou bastante feliz (não sabia que era com elas hehehe). Sentado na poltrona e comendo uma bobagem, deixei-me capturar e, ao longo da narrativa, me via maravilhado com a beleza, sensibilidade e complexidade atribuídas aos corpos e às sexualidades presentes naquele filme. Ainda tocado pela história, não creio que devo falar de modo mais detido sobre ela... nem mesmo, sinto-me autorizado a isso...
Se me permitem... assistam.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Publicações...

People, construí uma página onde coloco links e informações dos meus textos acadêmicos... Entretanto, pelo layout do blog, o acesso ficou meio apagadinho... por isso, estou fazendo este post para indicar que no canto superior esquerdo desta página há um atalho justamente chamado, "Publicações..."
Um abraço

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Johnny Weir - O Patinador Poker Face

Após apresentação de Johnny Weir (http://www.youtube.com/watch?v=0B1254JPmMk) nas olimpíadas de inverno de 2010, comentaristas da emissora RDS fizeram menção de repúdio à apresentação do patinador. Johnny Weir feria o esporte e levava má fama para os outros concorrentes ao eleger música e coreografia, que, segundo eles, eram altamente marcadas de feminilidade. Johnny Weir deveria fazer um teste de sexualidade e, quem sabe, ir competir com as mulheres...

Esse acontecimento tornou-se o eixo de uma das avaliações de uma dada disciplina que leciono... O post que se segue foi organizado por mim, carregando os posionamentos construídos pelos meus alunos.

"Johnny Weir fez uma apresentação (...) que mexeu com a mesmice dos anos anteriores, quando músicas clássicas predominavam e, com isso, foi taxado de homossexual. Entretanto, em nenhum momento da apresentação Weir afirmou sua sexualidade, apenas colocou em prática uma coreografia que não era de costume para a patinação artísitica masculina" (Belloto e Druzian). "Culturalmente os corpos são representados dentro de uma dada perpectiva de masculinidade ligada à força e virilidade e a feminilidade ligada à delicadeza, maternidade e leveza." (Ávila e Amaral). Assim, quando (...) Weir, patinador homem quebrou a "regra social" (...) vimos o estranhamento se materializar nos comentários da emissora de TV. Ao nos deparar com situações como essas pensamos em duas possibilidaddes...

1) Os atributos de graça, leveza e sensualidade trazidas por Weir não devem ser pensados em uma relação direta com sua sexualidade. Desse modo estariamos, erroneamente, essencializando a feminilidade e a masculinidade, fechando espaços para outros modos de ser homem e mulher... Desse modo aponto que as feminilidades e as masculinidades são múltiplas, mutáveis, mutantes, não contingentes... o plural se manifesta nos inúmeros modos de ser homem e ser mulher... Entretanto, o que impera é um olhar obtuso que liga graça,  leveza e sensualidade exclusivamente à feminilidade e que, quando é exercida por um homem, sua sexualidade é logo posta em suspeição. Aos comentaristas da emissora de TV, eu diria, vão estudar mais um pouquinho...

2) "Independende da orientação sexual (o patinador abertamente se posiciona como gay), Weir é profissional de um esporte que tem, acima de tudo, um apelo estético com traços de suavidade, leveza, elegância (...) Com todos esses aspectos, a patinação artística é uma modalidade que exige sensualidade..." (Heinen e Attolini). "Weir utilizou seu corpo de forma expressiva demonstrando na coreografia um sensualismo sem pudor.  Ademais a sexulaidade de Weir não estava em questão naquele momento". "Independente de sua sexualidade o patinador se preparou muito para o evento," constituindo-se como o 13º do ranking mundial  (Costa e Garcia). Os apectos discutidos pelos comentaristas deveriam ser de ordem técnica, preocupando-se com a execução das exigências da modalidade e coisas afins...
"Pensamos ainda que Jonnhy Weir não feriu o esporte por ser homossexual, como indicam os comentáristas da TV, pelo contrário, agregou valor a este com seu talento excepcional" (Bishoff e Stroher).

Os trechos em itálico e entre aspas foram extraídos das construções textuais dos alunos. Os demais são meus... Opto por construir esse post a partir de trechos dos acadêmicos, uma vez que temo pela agressividade em mim suscitada diante cometários tão medíocres. Acho que os alunos souberam dosar melhor a indignação...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

"Eu sei sor, o lixo tem bactérias..."

Hoje, em função da chuva, estava trabalhando com uma turma de alunos dentro da sala, conversando e fazendo atividades ali mesmo. Para evitar tumultos, enquanto os alunos não estavam fazendo a atividade, pedi para que permanecessem sentados em seus lugares. Habitualmente, eles se sentam em grupos em uma grande mesa redonda, cujo centro sustenta um baldinho de lixo.
A aula corria bem, quando uma aluninha chamou...
 _ Professor, o Fulano está comendo o trabalhinho dele!!!
Eram folhas de papel pardo do tamanho de uma A4. O aluno segurava cada uma, em uma das mãos, o papel estava amassado e presos fortemente pelos dedos e punho cerrado... A criança levava cada uma das folhas à boca, e as rasgava com os dentes... Como se não fosse o suficiente ainda mastigava, com a boca aberta aquele papel já molhado de saliva.
Vendo aquela cena inusitada, pensei... O aluno só quer tumultuar, logo, provavelmente, vai parar... Ledo engano... ele comia e comia o trabalhinho, chegando até a engolir o papel.
Fiquei preocupado e fui até la.
_ Fu-laaaa-no (porque se não separar o nome das crianças em sílabas, a advertencia não sute efeito), o que é isso? Que nojooooo. Cospe isso no baldinho de lixo, guri!
Olhando para mim, o guri nada fez. Repreendi novamente retirando de suas mãos o papel que ainda restava. Logo pôs-se a cospir papel e saliva, como se quisesse limpar a boca... Mais aliviado, falei:
_ Muito bem, meu filho...
De súbito, o guri enfiou as mãosinhas na lixeira e pegou todo o lixo possível, metendo de uma só vez na boca, emitindo sons com o mastigar de boca aberta.
De onde estava foi possível avistar: pontas e cascas de lápis, pedaços de papel, embrulho de bala e até um pedaço de papel higienico.
Olhando aquela cena não acreditei no que acontecia... a boca do aluno estava cheia de lixo, emitindo sons animalescos, balançando a cabeça com vigor, enquanto eu dizia:
 _ Fu-laaaa-no, cospe isso, guri, cospe isso, tu tá ficando doido? Tu tá doido, meu filho!!!!
E eu chegava com a lixeira perto dele e dizia: cospe, cospe logo, guri... que nojo... As crianças faziam mensão de asco... a mim, não cabia fazer mais nada... Diante daquela cena surreal, comecei a rir...
Mais tarde, voltando pra casa, as lembranças me tiraram lágrimas dos olhos e dores nos maxialilares... não conseguia parar de gargalhar.



PS: O aluno cuspiu o lixo e de modo reservado conversei com ele sobre os perigos da sujeira do lixo. Ao que disse o aluno? "Eu sei sor... no lixo tem bactérias..." A criança tem seis anos.

Vídeos História do corpo 2010-01 e 02

Uma das disciplinas que leciono, no ensino superiro, discute o corpo na perspectiva histórica e cultural. Um dos módulos dessa disciplina diz respeito à História do corpo e, há alguns semestres, tenho adotado como prática avaliativa a produção de um vídeo. Abaixo posto alguns links das super produções dos alunos...
Um abraço.

sábado, 1 de maio de 2010

Avenida Q

Acabei de chegar do teatro e, no caminho para casa estava ansioso para chegar logo e postar algo sobre a peça, ou melhor, postar algo que a peça me fez pensar... Avenida Q é um musical adaptado da Broadway que, apesar de ser protagonizado por bonecos, dirige-se ao público adulto. Com cenários bem cuidados e atores surpreendentes, Avenida Q colocou-se, nos primeiros minutos, para mim, altamente cativante e carismática. Animados por vozes e expressões incríveis, os bonecos foram se criando na história e, em alguns momentos, pareciam ter vida própria... Entretanto, o carisma dos primeiros minutos tornaram-se estranhamento quando delicados assuntos como raça, etnia e sexualidade foram "cutucados". Permanecer sentado naquela poltrona significou ver o estranhamento tornar-se resistência e ,a resistência tomar proporções do quase insuportável ao ouvir falas como "mulher pode ser gorda, pode até ser feia, mas nunca pode ter as duas coisas juntas"; "desculpem-me por ter sido um vizinho difícil, mas é porque eu sou gay" ou ainda, frases perversas destinadas a negros. Obviamente que em meio aos bonecos e ao tom "bem humorado" da peça, tudo isso não deveria passar de uma grande brincadeira. Talvez, esse seja o grande motivo da adaptação - satirizar delicados temas sociais. Enfim, ao meu olhar, o modo como a sátira foi se constituindo não passou de um superficialismo baseado no senso comum... uma peça recheada de clichês que ignora a densidade de temas tão delicados. Bom, acho que fui meio duro... mas não consigo me furtar de um posicionamento...

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Soro André begins

Estava um dia desses em aula com meus alunos quando uma criança me chamou...
_ Soraaaa, ô sora...
Ouvi aquilo com certo estranhamento, mas logo entendi que estava inserido em um espaço onde todas as professoras, até a minha chegada, eram mulheres. Sem corrigir a concordância do aluno, fui prontamente atendê-lo. Antes de inciarmos um diálogo, entretanto, outro aluno, posicionado ali ao lado, resolveu se pronunciar...
_ Ow, não é sora!!!!
Olhando antentamente e entendendo o "equívoco", o primeiro aluno olha para mim na tentativa de fazer uma nova construção.
_ Ô soroooo... soro?
Olhei rindo pra criança e respondi:
_ Fala, meu filho...