segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Boiola quatro bolas?!?!

Hoje, debaixo de um calor escaldante, estava em aula com as crianças. Ficamos por volta da sombra fazendo umas brincadeiras quando dois alunos começaram a discutir. De longe acompanhava toda a função, mas não quis me intrometer. De repente, um dos alunos começa a correr atrás do outro chamando o guri de Bicha.
Não tardou muito e um dos alunos começou a gritar:
_ Professoooooooooooor!!! Professoooooor, o fulano quer me bater.
_ Claro, professor ele tava me chamando de boiola quatro bolas!
_ Mas tu me chamou de bicha primeiro!!!
Chamei as crianças para conversar, sentei-me no banco e coloquei um de um lado e outro de outro antes de começar o interrogatório.
_ Ei, porque vocês estão brigando?
_ Ele me chamou de boiola quatro bolas.
_ Quatro bolas?!!? _ Perguntei surpreso.
_ Sim – respondeu o aluno.
_ Tah, mas não estou entendendo. O que é boiola?
Neste instante, um dos alunos sai fugido. E passo a pergunta para o que ficou do meu lado.
_ É um cara que fica com outro cara!
_ Hummmm. E isso é ruim?
_ É porque todo mundo fica chamando!!!
_ Tah! E esse negócio de quatro bolas? O que é isso?
_ Sabe as bolinhas que os homens têm?
_ Sim! O que tem?
_ Ele fala que eu tenho quatro. E quem tem quatro vai toda hora ao banheiro fazer o número 1.
Ouvindo isso já esbocei um sorriso e redobrei minha atenção.
_ Ah, então quanto mais bolas se tem, mais xixi se faz?
_ Aham.
_ Mas tu tem quantas bolas?
_ Duas.
_ Hummmm... E tu vai muito ao banheiro?
_ Não.
_ Porque tu tá te incomodando com isso, então, cara?
Zonzo de tanta pergunta, o aluno sai do banco meio sem saber porque sentou ali.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Uma história triste :(

Esta história aconteceu no início desse ano... Ainda fazia calor e eu estava com os alunos da professora Cláudia na quadra. A turma que é bastante agitada fazia, "aos trancos e barrancos", as atividades que eu propunha. Sempre havia uns dois ou três alunos que se dispersavam da brincadeira para se baterem, correrem pra outro lado, atirarem coisas um no outro, enquanto eu ia ficando com os cabelos em pé!!! Em uma dessas resolvi parar de chamar os alunos "fujões" e me dedicar a aqueles que queriam brincar. Obviamente, já pensava uma estratégia para "capturar" os resistentes na próxima aula.
Brincávamos em roda enquanto via três alunos (Rick, Leonardo e Marcelo Augusto) correrem pelo pátio, pela pracinha e se enfiarem por entre as árvores da escola. Passados cinco minutos, dois dos três alunos sentaram-se e, quietos, conversavam. Achei aquilo estranho, afinal, nada aquietava aquelas crianças.
Reuni os alunos que estavam brincando comigo e os levei para tomar água e me aproximei dos três desobedientes dizendo com firmeza:
_ Vamos pra sala!
Um dos alunos vira-se pra mim e diz.
_ Professor o Marcelo Augusto machucou um passarinho.
_ Que história é essa, guri?
_ O Marcelo Augusto, professor, atirou pedras em um passarinho que estava na árvore e machucou ele. O passarinho deve estar morto! Agora ele pegou o bicho e levou pra sala
Nesse meio tempo, os demais já estavam saindo do bebedouro. Foi então que solicitei que as crianças ficassem esperando na porta enquanto eu iria resolver coisas com o Marcelo Augusto.
Agitadas as crianças começaram a gritar do lado de fora:
_ Ow Marceloooo, tu matou o passarinho!!!!
_ Eh, que maldade!!!!
Voltei ao lado de fora, passei um "belo sabão" nas crianças e solicitei que ficassem quietas.
Entrei na sala e chamei pelo guri. Num primeiro olhar não consegui ver onde estava. Percorri com os olhos mais atentos e vi a criança agachada atrás das cortinas.
_ Marcelo Augusto, tu tá aí? Tu tá com o passarinho?
A criança começa a chorar.
_ Filho, sai de trás dessa cortina. Vamos conversar.
_ Não, não vou sair_ respondeu chorando_ eu matei um passarinho. Coitado do bicho.
Nesse momento a criança pega o passarinho na mão e coloca o corpo do bicho para fora da janela ameaçando jogá-lo.
_ Marcelo, não faz isso! Deixa o professor ver se o bicho está vivo.
Aproximei-me e tirei o bicho das mãos do aluno que agachou novamente chorando compulsivamente.
O corpo do animal ainda estava quente e o sangue escorria pelo bico. Era um pardal já adulto e que estava morto.
Neste instante, o sinal soou, indicando o término da aula. Haviam pais esperando os filhos para os levarem para casa. Coloquei o bicho em cima de um armário alto para que ninguém o visse, abri a porta e pedi para que as crianças pegassem o material rapidamente.
Marcelo Augusto permaneceu atrás da cortina enquanto as crianças iam embora...
Esvaziada a sala voltei-me para a criança.
_Marcelo, vamos?
_Não, eu matei o bicho, coitadinho... O bicho morreu, não morreu?
_Sim, filho, morreu...
O choro continuava aos soluços.
_ Que tal a gente enterrar o passarinho? _ Propus. A criança olhou pra mim meio reticente. _ É, a gente faz a cova no pátio, enterra e reza pra ele ... vamos?
Com muito custo a criança levantou-se, pegou seu material e me deu a mão enquanto eu segurava o passarinho na outra. Sugeri enterrarmos o animal atrás da sala, mas a criança indicou a pracinha, em meio aos brinquedos e às árvores. Logo relacionei aquele sendo um espaço mais bonito e, sobretudo, mais alegre. Fomos à pracinha, cavamos a terra, passei o bicho para a criança que o colocou, chorando, na cova. Enterramos e fizemos uma prece. As lágrimas voltaram mais intensas enquanto proferíamos a oração. Atento, sinalizei para as professoras que ninguém se aproximasse, a fim de não constranger a criança. Terminamos a oração e chamei o aluno para irmos, mas a criança queria permanecer ali mais alguns instantes. Atrasado para o trabalho em Novo Hamburgo, despedi-me do guri e fui até a Supervisora e à diretora que nos olhavam de longe. Contei rapidamente o que havia acontecido e pedi que não comentassem nada, como se não soubessem do acontecido. Despedi-me e fui em direção ao carro. Além da supervisora a diretora ouviu a história e sensibilizada falou.
_ Vou oferecer uns pasteis pro Marcelo Augusto.